Em Ciência da Informação, a Análise de Domínio pode ser definida como o estudo de áreas específicas do conhecimento, também chamadas de “domínios”, para compreender como a informação é produzida, organizada, disseminada e utilizada dentro dessas áreas. Essa análise considera os aspectos sociais, históricos e epistemológicos do domínio, com o objetivo de desenvolver sistemas de informação mais eficazes e adequados às necessidades dos usuários.
Neste artigo eu analiso, em certo grau de profundidade, esse importante tema do ponto de vista do SEO. Me fiz algumas perguntas enquanto estudava esse tema e resolvi escrever esse texto como forma de aprendizado e compartilhar com você que o lê.
A principal pergunta foi:
Como o usar as onze abordagens de Birger Hjørland de Análise de Domínio pode ajudar aos profissionais de SEO durante o processo de pesquisa de termos para os projetos, na construção de taxonomias ou ontologias para o uso nos diversos processos de construção de projetos digitais otimizados, e servir de base metodológica para a construção de processos de trabalho mais robustos?
Antes de tentar responder a essa pergunta quero falar um pouco sobre o que é análise de domínio para a Ciência da Informação (CI) e como essa visão se diferencia da visão que outras áreas têm sobre o tema.
Podemos dizer que na CI, a análise de domínio se destaca como uma metodologia fundamental para a compreensão da organização e recuperação da informação, permitindo visualizar a ciência e suas evoluções1 e compreender a organização e recuperação do conhecimento em áreas específicas do conhecimento.
Em 2002, Birger Hjørland, um proeminente pesquisador da área, propôs onze abordagens distintas para analisar um domínio específico. É com base neste artigo, que tem como objetivo apresentar e explorar cada uma dessas abordagens, que me inspirei para escrever este texto, onde tento conectar a visão de Hjørland com o atual trabalho que executo no SEO.
Conteúdos
Mas como tudo isso está relacionado ao nosso trabalho?
Para facilitar o meu trabalho, me permita lhe dar um exemplo:
Vamos dizer que você tem um cliente novo. Ele vende produtos naturais a base de Cannabis. Os produtos que esse cliente vende são regulamentados, tem leis específicas, mas ainda não são de amplo conhecimento do público que se beneficiaria com o uso deles. E você não conhece nada sobre o tema, mas precisa otimizar esse projeto.
Usando a análise de domínio no início da sua pesquisa, você poderia montar um mapa (ou um esquema) de tudo o que envolve esse mundo do uso da Cannabis como medicamento para não só entender o serviço de seu cliente, mas orientar a criação de conteúdo, a sua lista de termos que serão usados, a criação de uma taxonomia e todos os outros aspectos do seu projeto de SEO.
Foi isso que me chamou a atenção nesta metodologia.
Portanto, a aplicação da análise de domínio em nosso contexto de trabalho, na minha visão, permite que os profissionais da informação (e para mim um especialista em SEO pode se tornar um profissional desta categoria) compreendam as necessidades específicas de cada área e desenvolvam soluções que promovam o acesso e o uso da informação de forma eficiente e eficaz.
Recomendo a leitura do artigo Domain analysis in information science publicado no Journal of Documentation em 2002, porque ele nos fornece uma visão bastante abrangente da contribuição de Hjørland para essa área do conhecimento e ilustra como a análise de domínio pode ser aplicada na prática. Com a leitura você vai poder tirar as suas próprias conclusões.
O conceito de “domínio” na Ciência da Informação
Antes de pedir que se concentre nas onze abordagens, eu preciso fazer uso da literatura para conceituar “domínio” no contexto da CI. Faço isso para não corrermos o risco de iniciar o processo sem a necessária compreensão sobre o que estamos falando e de qual ponto de vista.
Para a CI, um domínio pode ser entendido como uma área específica do conhecimento, uma comunidade discursiva ou um campo de atividade profissional2. Ele representa um recorte da realidade que possui suas próprias características, linguagem, práticas e estruturas de comunicação2. As áreas de especialização na divisão do trabalho, que constituem os domínios, devem ser teoricamente compatíveis ou estabelecidas socialmente2.
Medicina é um domínio, mas um hobby como pescar ou acampar também é um domínio.
A análise de domínio, proposta por Hjørland e Albrechtsen em 19952 busca compreender a natureza social, ecológica e orientada ao conteúdo do conhecimento dentro de um domínio específico2.
Na história do termo, a computação iniciou usando-o para definir as questões pertinentes ao momento e ao campo da informática. Nos anos 802 já se falava de análise de domínio, mas o significado do termo era diferente do que estamos aqui tratando, a abordagem dos anos 90 se desloca da visão mais formal e computacional e aponta para análises mais abrangentes, por isso falamos em estudo da linguagem dos grupos pertencentes a um certo domínio.
Como, por exemplo, falam os pescadores do estado do Rio de Janeiro? Quais são as suas práticas e como se comunicam? O que eu quero destacar é o fato que a análise de domínio é uma combinação de estratégias sociológicas e epistemológicas que enfatizam a importância do conhecimento do assunto2.
Natureza dinâmica dos domínios
Como mencionei anteriormente, os domínios não são entidades estáticas, mas sim recortes dinâmicos. E um domínio pressupõe uma teoria que explica a natureza deste domínio, seu funcionamento, linguagem etc. Isso significa que os limites e as características de um domínio podem evoluir ao longo do tempo, influenciados por diversos fatores.
Importante dizer que essa teoria, que busca explicar a dinâmica de funcionamento de um domínio, geralmente vem da comunidade acadêmica que estuda determinado assunto e encontra esse domínio. Ai busca entendê-lo, explicá-lo, defini-lo.
Novamente, vamos usar um exemplo: pense em como o domínio da tecnologia evoluiu nos últimos 50 anos:
Imagine como as práticas dos grupos que atuavam neste campo do conhecimento humano era em 1974, como eles lidavam com computadores do tamanho de uma sala pequena, antes do surgimento da interface gráfica que usamos hoje em dia, como se ela existisse desde sempre. A linguagem usada, os termos, o relacionamento entre as pessoas e tudo mais.
Como disse antes, é preciso reconhecer que os domínios, diferentemente das divisões do mundo, são dinâmicos e dependentes da teoria2 que o fundamenta. Isso significa dizer que os limites e as características de um domínio podem mudar ao longo do tempo, sendo influenciados por fatores como:
- O desenvolvimento de novas teorias;
- A evolução das práticas profissionais e;
- As mudanças no contexto social.
Alguns dos fatores que contribuem para a natureza dinâmica dos domínios incluem:
- Avanços científicos e tecnológicos: Novas descobertas, teorias e tecnologias podem redefinir os limites de um domínio, criar subdomínios ou até mesmo fundir domínios previamente separados.
- Mudanças sociais e culturais: As mudanças nos valores, crenças e práticas sociais podem influenciar a forma como o conhecimento é produzido, organizado e utilizado em um domínio.
- Influência de outros domínios: A interação entre diferentes domínios pode levar à troca de conhecimentos, à criação de novas áreas de pesquisa, trabalho e à redefinição dos limites dos domínios envolvidos.
- Evolução da linguagem e da terminologia: A linguagem utilizada em um domínio está em constante mudança, com a criação de novos termos, a redefinição de conceitos e a adaptação da linguagem a novas realidades.
Não posso deixar de falar um pouco mais sobre esse terceiro ponto. Ele é a clara conexão entre a metodologia da análise de domínio e o trabalho de SEO, principalmente no fluxo de trabalho que eu desenvolvi e utilizo no meu trabalho. Estudar a linguagem e terminologia do domínio do conhecimento no qual o negócio do meu cliente está relacionado me permite ir muito além da mera pesquisa de palavras, termos ou conceitos.
Conseguimos criar (e manter atualizado) um mapa do conhecimento coletivo presente em certa área do conhecimento e com esse mapa guiar as estratégias de SEO, conteúdo, desenvolvimento de sites e muito mais.
Como já deve ter dado para perceber, essa natureza dinâmica dos domínios apresenta desafios para o meu trabalho. Mas isso acontece também na Ciência da Informação, especialmente na organização e recuperação da informação. Sistemas de classificação, tesauros e outras ferramentas de organização do conhecimento precisam ser constantemente atualizados para refletir as mudanças nos domínios.
Não é à toa que eu inseri no meu processo de trabalho essas ferramentas vindas da Biblioteconomia: tesauros, vocabulários controlados, taxonomias. Elas me ajudam a entender os domínios, mapeá-los e mantê-los atualizados conforme a necessidade de cada projeto. Eu preciso então levar em consideração essa dinâmica ao estudar um domínio específico.
No meu trabalho é impossível executar o fluxo de trabalho semântico sem analisar o estado atual de cada domínio, mas também sua história, suas tendências e as forças que podem influenciar na sua evolução, e quando isso pode acontecer.
Portanto, na minha visão, compreender a natureza dinâmica dos domínios permite:
- Desenvolver sistemas de informação flexíveis e adaptáveis: Sistemas que possam acompanhar as mudanças nos domínios e continuar a fornecer acesso à informação relevante. Desenvolver uma ferramenta de busca interna mais eficiente, por exemplo.
- Criar ferramentas de organização do conhecimento que reflitam a estrutura dinâmica dos domínios: Classificações, tesauros, taxonomias ou ontologias que possam ser atualizados e expandidas de acordo com a evolução do domínio.
- Promover a interdisciplinaridade e a comunicação: Facilitar a troca de conhecimentos e a colaboração entre eu, o cliente e todos os envolvidos na operação do negócio, sejam eles de qual área da empresa forem.
Ao reconhecer essa dinâmica, podemos desenvolver soluções mais eficazes para os nossos projetos, para a organização que nos contrata, que facilita o acesso e o uso da informação, que está em constante mudança.
As onze abordagens de Hjørland para análise de domínio
Se você chegou até aqui deve estar realmente interessado no uso da análise de domínio para o seu trabalho. Para me ajudar a entender, e poder te explicar, fiz uma tabela com cada abordagem, uma pequena descrição e um exemplo de cada uma.
Hjørland (2002) 2 sugeriu onze maneiras pelas quais a CI pode abordar um domínio de forma específica:
Abordagem | Descrição | Exemplo |
---|---|---|
Produção e avaliação de guias de literatura e portais temáticos | Envolve a criação de recursos que auxiliam na navegação e acesso à informação dentro de um domínio. | Desenvolvimento de uma base de dados online com artigos técnicos e documentos relevantes sobre a área de biotecnologia, com filtros de busca por autor, data de publicação e palavras-chave. |
Produção e avaliação de classificações especiais e tesauros | Concentra-se no desenvolvimento de sistemas de classificação e vocabulários controlados específicos para um domínio. | Criação de um tesauro especializado em termos médicos para indexar e recuperar informações em projeto digital. |
Pesquisa sobre competências em indexação e recuperação da informação em especialidades | Investiga as competências e habilidades necessárias para indexar e recuperar informações de forma eficaz em um domínio específico. | Um estudo que avalia a capacidade de usuários com formação em Direito de utilizar diferentes bases de dados jurídicas para encontrar informações relevantes para casos específicos. |
Conhecimento de estudos de usuários empíricos em áreas temáticas | Enfatiza a importância de conhecer e aplicar os resultados de pesquisas empíricas com usuários para o desenvolvimento de sistemas e serviços de informação mais eficazes. | Uma pesquisa com engenheiros civis para identificar suas principais necessidades de informação, os tipos de recursos que utilizam e as dificuldades que enfrentam no acesso à informação técnica. |
Produção e interpretação de estudos bibliométricos | Envolve a realização e interpretação de estudos bibliométricos para identificar tendências, padrões de publicação, autores influentes e outras informações relevantes sobre a estrutura e a dinâmica do domínio. | Análise da produção científica em nanotecnologia, utilizando dados bibliométricos para identificar os principais periódicos, autores e instituições de pesquisa na área. |
Estudos históricos de estruturas e serviços de informação em domínios | Concentra-se na análise histórica das formas de organização e comunicação do conhecimento em um domínio. | Um estudo sobre a história das universidades no Brasil, analisando a evolução dos seus serviços, acervos e papel no desenvolvimento da educação superior, para criação de uma plataforma focada no assunto. |
Estudos de documentos e gêneros em domínios do conhecimento | Investiga os diferentes tipos de documentos e gêneros que circulam em um domínio, analisando suas características, usos e funções na comunicação do conhecimento. | Análise dos diferentes tipos de documentos utilizados na área de arquitetura, como plantas baixas, desenhos técnicos, memoriais descritivos e maquetes eletrônicas. |
Estudos epistemológicos e críticos de diferentes paradigmas, pressupostos e interesses em domínios | Examina criticamente os diferentes paradigmas, pressupostos e interesses que moldam a produção e a disseminação do conhecimento em um domínio. | Uma análise crítica das diferentes abordagens teóricas em psicologia, considerando as implicações de cada paradigma para a pesquisa e a prática clínica. |
Conhecimento de estudos terminológicos, LSP (Linguagens para Fins Específicos) e análise do discurso em campos do conhecimento | Concentra-se na análise da terminologia, das linguagens especializadas e do discurso em um domínio. | Um estudo sobre a linguagem utilizada em contratos jurídicos, analisando os termos técnicos, as estruturas gramaticais e as estratégias discursivas utilizadas, gerando um vocabulário controlado. |
Estudos de estruturas e instituições na comunicação científica e profissional em um domínio | Analisa as diferentes estruturas e instituições que são meio entre a comunicação científica e profissional em um domínio. | Uma pesquisa sobre o papel das agências de fomento à pesquisa no desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil, analisando os seus programas, critérios de avaliação e impacto na produção científica. |
Conhecimento de métodos e resultados de estudos de análise de domínio sobre cognição profissional, representação do conhecimento em ciência da computação e inteligência artificial | Explora a aplicação de métodos e técnicas de outras áreas para a análise de domínio. | Desenvolvimento de um sistema de inteligência artificial para auxiliar na classificação de documentos jurídicos, utilizando técnicas de processamento de linguagem natural e aprendizado de máquina. |
Eu não vou me estender analisando cada uma das onze abordagens, mas eu sei que você já deve ter tido algumas ideias de como usar algumas delas em seus projetos, certo? Eu já criei um vocabulário controlado para um projeto ligado a área do Direito, que me deu bastante trabalho. Na época não conhecia a análise de domínio, e ela seria muito útil para me orientar no trabalho, me poupando dias e dias de pesquisas sem resultados.
Mas em síntese, as onze abordagens, que vão desde a produção de guias de literatura até a aplicação de métodos de inteligência artificial, fornecem um conjunto abrangente de ferramentas e perspectivas para a análise de domínios, que você pode refletir e ter suas próprias ideias.
Ao considerar as características sociais, epistemológicas e históricas de cada domínio, a CI pode contribuir para o desenvolvimento de sistemas e serviços de informação mais eficazes, que atendam às necessidades dos usuários e promovam o avanço do conhecimento. Faça uso deste conhecimento, esse é o meu convite.
A análise de domínio geralmente é aplicada nesses contextos:
- Bibliotecas: Na organização de acervos, na criação de catálogos e bases de dados, no desenvolvimento de serviços de referência e na formação de usuários.
- Arquivos: Na classificação e descrição de documentos, na preservação de acervos históricos e no acesso à informação arquivística.
- Museus: Na organização de exposições, na catalogação de objetos e na criação de materiais educativos.
- Ambientes digitais: No desenvolvimento de sistemas de busca, na organização de conteúdo online e na gestão da informação em plataformas digitais.
Cada um dos exemplos são algumas ideias que podem gerar aplicações práticas, produtos ou serviços. Algumas vezes entramos em contato com uma metodologia ou técnica, altamente científica ou acadêmica e achamos que ela não tem aplicação prática e não tentamos gerar algumas analogias entre a nossa prática profissional e elas.
Esse é o meu trabalho: fazer essas analogias e trazer para vocês também pensarem sobre o assunto, e se fizer sentido, gerar aplicações no seu trabalho. Se pudermos entender como analisar um domínio do conhecimento e extrair dele o conjunto dos conhecimentos contidos nele, teremos uma ferramenta extremamente útil para o nosso trabalho.
Análise de domínio e SEO
Depois de passarmos “brevemente” pela análise de domínio, segundo a visão de Hjørland para as CI, vamos entrar na nossa área específica e tentar responder as perguntas que eu fiz quando comecei a estudar esse assunto:
Como usar análise de domínio nos ajuda a:
- Melhorar os processos de pesquisa de termos para os projetos?
- Na construção de taxonomias ou ontologias para o uso nos diversos processos de construção de projetos digitais otimizados?
- E serve de base metodológica para a construção de processos de trabalho mais robustos?
Vou tentar usar a prática na aplicação do método que eu criei para o SEO Semântico (Fluxo de Trabalho Semântico) como base para conduzir esse meu trabalho de criar analogias entre a Ciência da Informação, a Análise de Domínio e o SEO. Desde que escrevi o livro e continuei aplicando a metodologia no dia a dia, venho criando mais experiências que me permitem refinar o modelo de trabalho, mas também incluir novos conhecimentos vindos dos estudos em Biblioteconomia e CI.
Como a análise de domínio nos ajuda a melhorar os processos de pesquisa de termos para os projetos?
Das três perguntas, essa é a mais fácil de responder: nos ajuda a compreender o domínio no qual o projeto que estamos otimizando está. Se vamos otimizar um site de um consultório odontológico é necessário entender como ele “funciona”. Criar uma lista com quarenta palavras-chave e entregar vinte textos baseados nessas palavras não é suficiente, pelo menos para mim. Eu vou além.
Estudar o domínio da odontologia, sua linguagem específica, quais são as entidades reguladoras, os órgãos principais, os termos usados e documentar toda essa pesquisa me permite gerar (e aprpvar com o cliente) o vocabulário controlado e a taxonomia que são a base para o fluxo de trabalho semântico que eu utilizo em todos os meus projetos.
Antes de conhecer a análise de domínio o meu método de pesquisa inicial era muito menos estruturado e empírico.
Como a análise de domínio nos ajuda a construção de taxonomias ou ontologias?
Na resposta acima eu já indiquei como comecei a usar análise de domínio para construir taxonomias. Devo confesar que só criei uma ontologia para um projeto nesses anos todos. Mas taxonomias eu uso em todos os projetos. E a análise de domínio me ajuda muito a identificar os conceitos mais importantes e relevantes dentro do domínio do projeto. E ai crio a base para a estrutura da taxonomia.
Além disso, consigo mapear algo muito importante: as relações entre os conceitos. Esta metodologia me ajuda a estabelecer uma hierarquia e organizar os termos de forma lógica e coerente dentro da taxonomia.
A validação da taxonomia é muito mais simples, utilizando essa metodologia me ajuda a validar a taxonomia, garantindo que ela seja consistente com a forma como o conhecimento é organizado e utilizado no domínio. E ai facilita demais a aprovação do trabalho com os especialistas no assunto, na maioria do caso, o cliente.
Em resumo, a análise de domínio me permite ter uma compreensão da estrutura do domínio que estou entrando pela primeira vez. Ela me permite obter uma visão abrangente da estrutura do domínio, dando as bases para a criação de taxonomias que reflitam a organização do conhecimento na área.
Com eu disse anteriormente, não costumo usar ontologias em projetos. Elas são construções mais complexas e sua utilização é mais útil em projetos muito complexos. Na maioria esmagadora dos casos uma taxonomia e um vocabulário controlado dão conta do recado. Mas de qualquer maneira, vou responder a pergunta.
A análise de domínio pode ser utilizada para extrair ontologias a partir de textos e outros recursos informacionais, identificando conceitos, relações e propriedades relevantes presentes em livros, documentos e outros materiais textuais. Com as modernas ferramentas (muitas baseadas em Modelos de Linguagem Natural) conseguimos extrair essas mesmas informações de vídeos e áudios.
Uma das forças do uso de uma ontologia é na representação do conhecimento. A análise de domínio é uma poderosa aliada na representação do conhecimento. Permite, de forma estruturada e formal, utilizar ontologias para descrever os conceitos, as relações e as regras dentro de um domínio. Ao considerar os diferentes aspectos do domínio, como a terminologia, os processos e as interações entre os conceitos, a análise de domínio contribui para o desenvolvimento de ontologias mais completas e robustas.
Além disso, conseguimos integrar análise de domínio, criação de ontologias e ferramentas como o PoolParty, para integrar dados de diferentes fontes, permitindo uma melhor organização e acesso à informação. Projetos podem se beneficiar da criação de ferramentas de recuperação da informação mais robustas, que usam dados gerados em toda a organização, de forma integrada.
Como a análise de domínio serve de base metodológica para a construção de processos de trabalho mais robustos?
Um exemplo prático que vi foi a criação de uma ferramenta de busca interna que mapeou todos os funcionários da empresa, suas formações profisionais e acadêmicas, além de todos os projetos que participaram dentro da empresa, além do papel que exerceram em cada projeto. Essa ferramenta sugere parceiros de trabalho para um projeto que determinado funcionário queira implementar mas não sabe com quem podem contar dentro da organização.
Para gerar a base para a ferramenta, foi gerada uma ontologia onde cada funcionário era uma entidade, com seus projetos, formações e habilidades conectadas.
Preciso fazer uma pausa para estabelecer uma diferença. Algumas pessoas, mais acostumadas com o uso do estudo de domínio podem estar pensando assim: “Mas isso eu já faço, eu conheço modelagem de domínio!”
Eu mesmo quando entrei em contato com essa metodologia fiquei com essa impressão, e estudando um pouco mais, comecei a perceber a diferença. Por isso quero falar brevemente sobre as diferenças entre as duas.
Análise de domínio versus modelagem de domínio
Embora ambas as abordagens, análise de domínio na Ciência da Informação e modelagem de domínio, visem compreender um domínio específico, elas possuem diferenças cruciais em seus objetivos, métodos e aplicações.
Vamos fazer um resumo rápido?
Análise de domínio na Ciência da Informação, como proposta por Birger Hjørland , foca em entender a natureza social, ecológica e orientada ao conteúdo do conhecimento dentro de um domínio.
Tem como objetivo analisar como o conhecimento é produzido, organizado, disseminado e utilizado em uma área específica, considerando seus aspectos sociais, históricos e epistemológicos.
Já a modelagem de domínio é um processo comumente utilizado em engenharia de software para criar uma representação abstrata de um domínio de problema.
Seu objetivo é identificar os conceitos, as entidades, as relações e os comportamentos relevantes dentro do domínio para fins de desenvolvimento de software.
A modelagem de domínio geralmente resulta em diagramas e modelos que representam a estrutura e a funcionalidade do domínio, servindo como base para o design e a implementação de sistemas de software.
Em resumo, a análise de domínio na Ciência da Informação busca uma compreensão profunda do domínio do conhecimento em si, enquanto a modelagem de domínio se concentra em representar o domínio para fins de desenvolvimento de software.
Aqui está uma tabela que resume as principais diferenças:
Característica | Análise de Domínio (CI) | Modelagem de Domínio |
---|---|---|
Objetivo principal | Compreender a natureza do conhecimento em um domínio. | Representar o domínio para desenvolvimento de software. |
Foco | Aspectos sociais, históricos e epistemológicos do domínio. | Conceitos, entidades, relações e comportamentos do domínio. |
Métodos | Diversos, incluindo análise de documentos, estudos bibliométricos, estudos epistemológicos, etc. | Diagramas e modelos (UML, ERD, etc.). |
Aplicações | Organização do conhecimento, recuperação da informação, desenvolvimento de sistemas de informação. | Engenharia de software, design de sistemas. |
Dá para perceber o ponto de confusão?
“Seu objetivo é identificar os conceitos, as entidades, as relações…” É aqui que, aparentemente está a relação entre elas, mas o conceito de entidade é diferente para cada uma das abordagens. Para o uso em SEO, eu proponho utilizar a abordagem da Ciência da Informação.
Vale ressaltar que, apesar das diferenças, a análise de domínio na Ciência da Informação pode ser utilizada como base para a modelagem de domínio em projetos de desenvolvimento de software, plataforma, ferramenta digital ou o que mais for necessário. Ela fornece informações valiosas sobre a estrutura do conhecimento e as necessidades dos usuários em um domínio específico e por isso é muito valiosa.
Para finalizar este artigo, meus amigos e amigas SEOs, quero reafirmar que as onze abordagens de Hjørland para análise de domínio oferecem um conjunto muito rico e abrangente de ferramentas e perspectivas para serem usados em nossos projetos, principalmente nas nossas pesquisas iniciais e suas necessárias atualizações.
Ao considerar as características específicas de cada domínio, a Ciência da Informação contribui para a organização, o acesso e o uso eficaz da informação em diversas áreas do conhecimento. A análise de domínio é portanto nossa aliada no desenvolvimento de sistemas e serviços de informação que atendam às necessidades dos seus clientes e dos clientes dos seus clientes.
Para a pesquisa deste artigo eu usei uma nova ferramenta que o Gemini do Google criou, chamada Deep Research. Ele me ajudou muito a achar informações relevantes para guiar as minhas questões acerca do termo e me indicou novos caminhos no meu estudo. Ele usa somente referências validadas e faz buscas na web e nos banco de dados. Eu sugiro que faça seu testes para saber se ele pode te ajudar (como me ajudou) a estudar os assuntos que precisa estudar.
Referências citadas
- HJØRLAND, B. Domain analysis in information science. Journal of Documentation, v. 58, n. 4, p. 422–462, 1 ago. 2002.
- HJØRLAND, B.; GNOLI, C. Domain analysis (IEKO). Disponível em: <https://www.isko.org/cyclo/domain_analysis>. Acesso em: 20 dez. 2024.