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O Panorama Evolutivo do Desenvolvimento e Transição de Carreira
A trajetória profissional contemporânea distingue-se marcadamente dos modelos lineares e estáveis do passado. Atualmente, as transições de carreira não são meras exceções, mas sim características cada vez mais intrínsecas à vida profissional. Este dinamismo impõe a necessidade premente de uma compreensão aprofundada dos seus fundamentos psicológicos. O presente relatório visa sintetizar teorias psicológicas chave e achados empíricos relevantes para o desenvolvimento e a transição de carreira em adultos, com base numa análise de investigações recentes. A passagem de carreiras previsíveis para percursos mais fluidos e, por vezes, incertos, é um fenómeno que encontra eco em diversos constructos teóricos, como a ênfase de Krumboltz na capacidade de lidar com a mudança e de capitalizar eventos fortuitos 1, e a noção de um “mundo imprevisível” que permeia discussões sobre o futuro do trabalho.2
Este novo paradigma de volatilidade profissional tornou-se um motor central para a investigação. A prevalência de termos como “mundo imprevisível” 2, “choque de carreira” 2 e a necessidade de “adaptabilidade” 2 em múltiplas fontes sugere uma alteração fundamental na forma como as carreiras são estudadas e vivenciadas. A Teoria da Aprendizagem Social para a Tomada de Decisão na Carreira (LTCC) de Krumboltz aborda explicitamente a necessidade de os indivíduos lidarem com a mudança e aproveitarem eventos inesperados.1 O e-book da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), intitulado “Carreira em Psicologia num Mundo Imprevisível” 2, e o conceito central de “adaptabilidade de carreira” de Savickas 3 corroboram esta visão. Esta ênfase consistente na navegação da incerteza aponta para uma mudança fundamental: o foco desloca-se da procura de um “ajuste” único e estático para a compreensão da navegação contínua em cenários de incerteza. Tal realidade implica uma maior necessidade de recursos psicológicos como resiliência e competências adaptativas, tornando estas áreas cruciais para investigação e intervenção.
Adicionalmente, embora o foco deste relatório resida nos aspetos psicológicos, é inegável a interconexão entre a psicologia individual e o contexto socioeconómico. Dados como a “alta taxa de desemprego” e a menção a “fatores externos” como motivos para a transição 4 indicam que as respostas psicológicas individuais às transições de carreira não podem ser plenamente compreendidas isoladamente das tendências económicas e sociais mais amplas. A Teoria Social Cognitiva da Carreira (SCCT) também reconhece que fatores ambientais influenciam as trajetórias de carreira 1, e as teorias sociológicas mencionadas em algumas análises abordam diretamente a influência de fatores institucionais e da dinâmica dos sistemas de trabalho.1 Consequentemente, as experiências psicológicas durante as transições de carreira não são puramente intrapsíquicas; são fortemente influenciadas e, frequentemente, desencadeadas por condições ambientais externas. Esta constatação sublinha a necessidade de as intervenções de aconselhamento de carreira e os sistemas de apoio adotarem uma perspetiva ecológica, considerando tanto o estado psicológico do indivíduo como o seu ambiente socioeconómico. Sugere, ainda, que políticas públicas e práticas organizacionais desempenham um papel na facilitação ou obstaculização de transições de carreira saudáveis.
O objetivo deste relatório é, portanto, consolidar informações provenientes de um conjunto selecionado de fontes de investigação, centrando-se nas teorias da psicologia vocacional, na experiência psicológica das transições de carreira na idade adulta e nas intervenções de aconselhamento associadas.
2. Pilares da Compreensão: Teorias Fundamentais em Psicologia Vocacional e Desenvolvimento de Carreira
A compreensão do desenvolvimento e da transição de carreira assenta em diversas teorias seminais que oferecem quadros conceptuais para analisar as escolhas, os percursos e as adaptações profissionais dos indivíduos. Estas teorias evoluíram ao longo do tempo, refletindo uma compreensão cada vez mais nuançada da complexa interação entre o indivíduo e o mundo do trabalho.
2.1. Teorias de Ajuste Pessoa-Ambiente (P-A)
Estas teorias postulam que a satisfação e o sucesso na carreira dependem da congruência entre as características do indivíduo e as do seu ambiente de trabalho.
- Teoria das Personalidades Vocacionais e Ambientes de Trabalho de Holland (RIASEC): Proposta por John Holland, esta teoria sugere que os indivíduos procuram ambientes que sejam congruentes com os seus tipos de personalidade, categorizados em seis tipos: Realista (R), Investigativo (I), Artístico (A), Social (S), Empreendedor (E) e Convencional (C). A congruência entre o tipo de personalidade e o tipo de ambiente de trabalho está associada a maior satisfação, estabilidade e desempenho profissional.1 Constructos chave incluem a congruência (grau de ajuste), a diferenciação (distinção entre os tipos no perfil do indivíduo ou ambiente), a consistência (proximidade dos tipos no hexágono RIASEC) e a identidade (clareza e estabilidade das metas vocacionais).5 Esta teoria fornece um quadro fundamental para o aconselhamento, ajudando os clientes a compreenderem-se a si próprios e a sua ligação com os ambientes ocupacionais, sendo o Self-Directed Search (SDS) um instrumento chave.5
- Teoria do Ajuste ao Trabalho (TWA) / Teoria da Correspondência Pessoa-Ambiente (PEC) (Dawis & Lofquist): Esta teoria foca-se na correspondência entre as aptidões e necessidades do indivíduo e os requisitos e sistemas de reforço do ambiente.7 A permanência no trabalho é influenciada pela satisfatoriedade (satisfação do ambiente com o trabalhador) e pela satisfação do trabalhador (o ambiente fornece reforçadores). A PEC generaliza a TWA, assumindo interações ativas e reativas entre a pessoa (P) e o ambiente (E), onde ambos têm requisitos e expectativas.7 Esta abordagem expande o conceito de ajuste P-A ao enfatizar a interação dinâmica e o processo de ajustamento mútuo.
2.2. Teorias Desenvolvimentistas
Estas teorias encaram o desenvolvimento de carreira como um processo contínuo ao longo da vida, marcado por diferentes estágios e tarefas.
- Teoria Life-Span, Life-Space de Super: Donald Super conceptualizou o desenvolvimento de carreira como um processo vitalício que atravessa cinco estágios principais: Crescimento (infância, 4-13 anos), Exploração (adolescência, 14-24 anos), Estabelecimento (início da idade adulta, 25-45 anos), Manutenção (meia-idade, 45-65 anos) e Desinvestimento (final da idade adulta, após os 65 anos).1 Crucialmente, Super destacou a importância dos múltiplos papéis desempenhados ao longo da vida (Life-Space) e a implementação do autoconceito nas escolhas de carreira.5 Constructos como a maturidade de carreira e a adaptabilidade de carreira (particularmente relevante para adultos que lidam com condições de trabalho em mudança) são centrais.5 A teoria reconhece que os indivíduos podem reciclar através de estágios anteriores, o que é visto como uma resposta adaptativa.5 Oferece uma visão longitudinal abrangente, fundamental para entender as transições de carreira adultas e a interação do trabalho com outros papéis vitais.
- Teoria da Circunscrição, Compromisso e Autocriação de Gottfredson: Linda Gottfredson descreve como as aspirações ocupacionais são formuladas na infância e adolescência através de processos de circunscrição (eliminação de opções com base no género, prestígio e interesse) e compromisso (sacrifício da compatibilidade pela acessibilidade).1 Esta teoria explica as influências precoces nas escolhas de carreira e como os estereótipos sociais moldam as opções percebidas. Embora focada na juventude, o “mapa cognitivo” formado pode impactar as escolhas adultas.1
2.3. Teorias da Aprendizagem e Cognitivas
Estas teorias salientam o papel da aprendizagem, das cognições e das crenças na formação das decisões e comportamentos de carreira.
- Teoria da Aprendizagem para o Aconselhamento de Carreira (LTCC) / Teoria da Aprendizagem Social para a Tomada de Decisão na Carreira (SLTCDM) de Krumboltz: John Krumboltz postulou que as decisões de carreira são influenciadas por quatro fatores: dotação genética e aptidões especiais, condições e eventos ambientais, experiências de aprendizagem (instrumental e associativa) e competências de abordagem de tarefas.1 Esta teoria enfatiza a importância de lidar com a mudança, capitalizar eventos fortuitos (“acontecimento planeado” ou planned happenstance) e a aprendizagem contínua.1 Destaca o papel da adaptabilidade e da gestão da imprevisibilidade, sendo muito relevante para as carreiras modernas.
- Teoria Social Cognitiva da Carreira (SCCT) (Lent, Brown, Hackett): Focada nas crenças de autoeficácia, expectativas de resultados e metas pessoais como determinantes chave dos interesses, escolhas e desempenho na carreira.1 Reconhece a interação recíproca entre fatores pessoais, fatores ambientais e comportamento. Enfatiza a agência individual e as crenças na modelação das trajetórias de carreira, oferecendo alvos claros para intervenção (ex: desenvolvimento da autoeficácia).
- Abordagem do Processamento da Informação Cognitiva (CIP): Enfatiza os processos cognitivos na escolha de carreira, utilizando uma pirâmide de processamento da informação e o ciclo CASVE (Comunicação, Análise, Síntese, Valorização, Execução).7 Fornece um modelo estruturado para o próprio processo de tomada de decisão.
2.4. Teorias Contemporâneas e Construtivistas
Estas abordagens mais recentes focam-se na forma como os indivíduos constroem ativamente o significado e a direção nas suas carreiras.
- Teoria da Construção da Carreira de Savickas: Mark Savickas propõe uma perspetiva diferencial, desenvolvimentista e dinâmica, centrada na personalidade vocacional, temas de vida e adaptabilidade de carreira (preocupação, controlo, curiosidade, confiança).3 Utiliza métodos como a Entrevista de Estilo de Carreira. Os indivíduos constroem as suas carreiras impondo significado ao seu comportamento vocacional. Esta teoria representa uma mudança no sentido de compreender como os indivíduos criam ativamente significado, especialmente relevante num mundo pós-moderno e orientado para a narrativa. A sua aplicação na compreensão de como a liderança pode fomentar a adaptabilidade é um exemplo.3
- Abordagens Pós-Modernas/Narrativas (Peavey, Cochran) & Teoria do Caos nas Carreiras (Pryor & Bright): Enfatizam a construção de significado, a história de vida, a auto-organização e o papel do acaso e da complexidade no desenvolvimento de carreira.7 A Teoria do Caos, mencionada no e-book da OPP 2, reforça que pequenos eventos imprevisíveis podem ter implicações significativas na carreira. Estas abordagens reconhecem a natureza não linear e frequentemente imprevisível das carreiras e a importância das narrativas individuais para lhes dar sentido.
A progressão histórica destas teorias, desde o modelo de traço e fator de Parsons 1 até à Teoria da Construção da Carreira de Savickas 3 e à Teoria do Caos 2, reflete uma mudança de paradigma mais ampla na compreensão das carreiras. Inicialmente, o foco estava em encontrar um “ajuste” estático. Atualmente, há uma maior ênfase na forma como os indivíduos constroem dinamicamente significado, se adaptam à mudança e navegam na incerteza. O conceito de “adaptabilidade de carreira” de Super 5 serve como uma ponte, ilustrando a evolução dentro das próprias teorias desenvolvimentistas em direção a constructos mais dinâmicos. Esta evolução sugere que o campo reconheceu que as carreiras são menos sobre uma combinação perfeita única e mais sobre um processo contínuo de adaptação, aprendizagem e construção pessoal de significado num mundo em mudança. Consequentemente, as intervenções de carreira também devem evoluir, passando de uma avaliação exclusivamente para o ajuste para incluir o desenvolvimento de competências para a adaptabilidade, construção narrativa e gestão da incerteza.
Um elemento crítico e recorrente em teorias aparentemente díspares é a perceção e compreensão que o indivíduo tem de si mesmo. Seja no autoconceito de Super 5, nos interesses como expressões da personalidade em Holland 1, na autoeficácia da SCCT 1 ou nos temas de vida de Savickas 7, o autoconceito é fundamental. Mesmo as abordagens de traço e fator começam com a “compreensão de si mesmo”.1 Esta omnipresença indica que a compreensão interna e subjetiva de si (autoconceito, autoeficácia, personalidade, valores, interesses) é um fio condutor e um motor poderoso no desenvolvimento de carreira, independentemente da lente teórica específica. Assim, intervenções que visam aumentar a autoconsciência, como o “autoconhecimento” discutido em fontes brasileiras 8, provavelmente terão um impacto positivo alargado na tomada de decisão e satisfação na carreira.
Finalmente, é importante notar que, embora as teorias tenham ênfases diferentes, elas frequentemente abordam facetas distintas do complexo fenómeno da carreira e podem ser complementares. Por exemplo, a teoria de Holland 1 pode ajudar a identificar ambientes adequados, a de Super 5 pode enquadrar o momento e as tarefas de uma transição, e as de Krumboltz 1 ou Savickas 3 podem orientar sobre como navegar adaptativamente o processo de transição. Um manual de referência 7 apresenta estas teorias não como mutuamente exclusivas, mas como diferentes lentes, categorizando-as, por exemplo, como focadas em “diferenças individuais relacionadas com ocupações” versus “desenvolvimento individual relacionado com carreiras”. Uma compreensão holística do desenvolvimento de carreira beneficia da integração de perspetivas de múltiplas teorias em vez de uma adesão rígida a uma só. Desta forma, os conselheiros de carreira podem ser mais eficazes ao recorrer a um “conjunto de ferramentas” teóricas, aplicando diferentes modelos com base nas necessidades específicas do cliente e no seu estágio de desenvolvimento de carreira.
A tabela seguinte resume as principais teorias abordadas:
Tabela 1: Panorama das Principais Teorias de Desenvolvimento de Carreira
Teoria | Proponente(s) Principal(is) | Conceito Central | Constructos Chave | Foco/Aplicação Principal |
Teoria das Personalidades Vocacionais e Ambientes de Trabalho (RIASEC) | John Holland | Ajuste entre tipos de personalidade (RIASEC) e ambientes de trabalho correspondentes. | Congruência, Diferenciação, Consistência, Identidade Vocacional | Orientação vocacional, seleção de carreira, satisfação no trabalho. |
Teoria Life-Span, Life-Space | Donald Super | Desenvolvimento de carreira como um processo vitalício através de estágios, influenciado por múltiplos papéis de vida e pela implementação do autoconceito. | Estágios (Crescimento, Exploração, Estabelecimento, Manutenção, Desinvestimento), Papéis de Vida, Autoconceito, Adaptabilidade de Carreira | Aconselhamento de carreira ao longo da vida, planeamento de carreira, equilíbrio trabalho-vida. |
Teoria da Aprendizagem para o Aconselhamento de Carreira (LTCC) / SLTCDM | John Krumboltz | Influência de experiências de aprendizagem, fatores genéticos, ambientais e competências de abordagem de tarefas nas decisões de carreira. | Aprendizagem instrumental e associativa, Acontecimento Planeado (Planned Happenstance) | Tomada de decisão na carreira, gestão da imprevisibilidade, desenvolvimento de competências adaptativas. |
Teoria Social Cognitiva da Carreira (SCCT) | Lent, Brown, Hackett | Interação entre autoeficácia, expectativas de resultados e metas pessoais na formação de interesses, escolhas e desempenho na carreira. | Autoeficácia, Expectativas de Resultados, Metas Pessoais | Desenvolvimento de interesses vocacionais, superação de barreiras, promoção da persistência. |
Teoria da Construção da Carreira | Mark Savickas | Indivíduos constroem as suas carreiras impondo significado ao seu comportamento vocacional, guiados por temas de vida e adaptabilidade. | Personalidade Vocacional, Temas de Vida, Adaptabilidade de Carreira (Preocupação, Controlo, Curiosidade, Confiança) | Aconselhamento narrativo, facilitação da construção de significado, desenvolvimento da adaptabilidade. |
Teoria da Circunscrição, Compromisso e Autocriação | Linda Gottfredson | Formulação de aspirações ocupacionais na infância/adolescência através da eliminação de opções e compromissos baseados no género, prestígio e interesse. | Circunscrição, Compromisso, Mapa Cognitivo das Ocupações | Compreensão das influências precoces na escolha de carreira, combate a estereótipos. |
Teoria do Ajuste ao Trabalho (TWA) / Teoria da Correspondência Pessoa-Ambiente (PEC) | René Dawis, Lloyd Lofquist | Correspondência entre as necessidades/aptidões do indivíduo e os sistemas de reforço/requisitos do ambiente para promover a satisfação e a permanência. | Satisfatoriedade, Satisfação, Correspondência | Ajuste ao trabalho, retenção de colaboradores, reabilitação vocacional. |
3. Navegando a Mudança: A Natureza Multifacetada das Transições de Carreira em Adultos
As transições de carreira na idade adulta são fenómenos complexos, impulsionados por uma miríade de fatores e acompanhados por um espectro de experiências emocionais e comportamentais. Compreender esta natureza multifacetada é essencial para apoiar os indivíduos neste processo.
3.1. Motivações para a Transição de Carreira
As razões que levam os adultos a mudar de carreira são diversas, podendo ser agrupadas em fatores intrínsecos e extrínsecos.
- Fatores Intrínsecos: Estes emergem de necessidades e desejos internos do indivíduo.
- A busca por autonomia e crescimento profissional surge como um motor primário, especialmente identificado em estudos com psicólogos. Esta motivação envolve o desejo de gerir horários, obter progressos financeiros e alinhar o trabalho com a identificação e valores pessoais.4
- A exploração de novos interesses reflete o anseio por conhecer outras áreas profissionais ou atividades que possam oferecer maior realização.4
- A procura por qualidade de vida é outro fator intrínseco significativo, onde os indivíduos buscam um melhor equilíbrio entre as esferas pessoal, familiar e profissional.4
- A busca por propósito e aspirações está intrinsecamente ligada à necessidade de alinhar a carreira com um significado mais profundo e metas pessoais. O e-book da OPP 2 destaca a importância de construir uma carreira com “sentido”.
- Fatores Extrínsecos: Estes são impulsionados por circunstâncias externas ao indivíduo.
- A insatisfação com a remuneração é um fator extrínseco proeminente, com o baixo salário e a falta de reconhecimento financeiro a serem citados como motivos frequentes, particularmente entre psicólogos.4
- Pressões externas e transições involuntárias incluem ajustamentos organizacionais, clima de trabalho deteriorado, fim de contrato de trabalho, desemprego ou necessidade de acompanhar a família em mudanças residenciais.4 Um estudo indicou que quase 31% das transições de carreira de psicólogos foram de natureza involuntária, num período de elevada taxa de desemprego.4
Esta dualidade de motivações – desejos proativos orientados para o crescimento versus respostas reativas a circunstâncias negativas – sugere que as transições podem ser experiências de empoderamento ou de desempoderamento, dependendo do locus de controlo e do gatilho inicial. A experiência e o resultado de uma transição de carreira são significativamente moldados pelo facto de o indivíduo a ter iniciado com um sentido de propósito ou ter sido forçado a ela por pressões externas. A Teoria do Acontecimento Planeado de Krumboltz 1 implica agência na forma como se responde a eventos não planeados, mesmo que os eventos em si sejam externos. Consequentemente, as abordagens de aconselhamento precisam de ser adaptadas: para transições proativas, o foco pode ser na clarificação de objetivos e no planeamento; para transições reativas, pode ser inicialmente no apoio emocional, na gestão da perda e, posteriormente, na exploração de novas possibilidades.
É também notável a influência económica subjacente em transições aparentemente “psicológicas”. A menção significativa da “insatisfação com a remuneração” 4 como um motivo chave, mesmo para um grupo profissional como os psicólogos, evidencia que as realidades económicas estão profundamente interligadas com o bem-estar psicológico e as escolhas de carreira. Esta observação reforça a importância do contexto socioeconómico e pode ser relacionada com a hierarquia de necessidades de Maslow 1, onde as necessidades básicas de segurança (frequentemente financeiras) precisam de ser satisfeitas. As considerações financeiras não são apenas uma preocupação periférica, mas podem ser um catalisador central para mudanças de carreira, impactando estados psicológicos como satisfação e stresse. Deste modo, o aconselhamento de carreira não deve evitar a discussão de aspetos financeiros e pode necessitar de integrar aconselhamento prático sobre negociação salarial ou planeamento financeiro, ou encaminhar para especialistas quando apropriado. Sugere também que políticas económicas mais amplas que afetam os níveis salariais e a segurança no emprego têm um efeito direto nos padrões de transição de carreira.
3.2. O Panorama Emocional das Transições
As transições de carreira são frequentemente acompanhadas por um turbilhão de emoções. Experiências comuns incluem incerteza, insegurança, stresse, medo e ansiedade.2 O conceito de “choque de carreira”, introduzido no e-book da OPP 2, capta a natureza disruptiva de eventos de carreira inesperados. A insatisfação, particularmente a relacionada com a remuneração, pode levar a dilemas que resultam em acumulação de vínculos de trabalho, gerando sobrecarga, stresse e interferência na vida pessoal e familiar.4
3.3. Estratégias de Enfrentamento e Adaptação
Os indivíduos utilizam diversas estratégias para lidar com os desafios das transições de carreira. Um estudo com psicólogos 4 identificou várias abordagens proativas:
- Aquisição de novas experiências: Experimentar novos trabalhos, assumir contratos temporários, realizar trabalho voluntário ou estágios.
- Estudos, parcerias e planeamento: Prosseguir com formação adicional, especializações, procurar ajuda profissional (psicoterapia, coaching).
- Pesquisa de mercado e networking: Analisar as dinâmicas do mercado de trabalho e fortalecer contactos profissionais e pessoais.
- Dedicação à investigação e docência: Para aqueles com inclinação académica.
- Capacitação profissional: Participar em cursos, eventos e formações para melhorar competências.
O e-book da OPP 2 apresenta estratégias adaptativas mais amplas:
- Abraçar a adversidade e a incerteza como oportunidades de crescimento.
- Desenvolver adaptabilidade, que, segundo Savickas e Porfeli, compreende quatro dimensões: preocupação (otimismo e planeamento), controlo (sentido de direção e apropriação do futuro), curiosidade (exploração de opções) e confiança (crença nas próprias capacidades).
- Utilizar o “Acontecimento Planeado” (Planned Happenstance) de Krumboltz, que envolve competências como curiosidade, persistência, flexibilidade, otimismo e capacidade de arriscar para transformar eventos não planeados em oportunidades.
- Manter um desenvolvimento profissional contínuo e “encher a mochila” com novas experiências e aprendizagens.
Entre as diversas estratégias de enfrentamento, o “networking” ou o “cultivo de relacionamentos” emerge consistentemente como vital.2 Esta constatação sublinha a natureza inerentemente social do desenvolvimento e das transições de carreira, mesmo quando os fatores psicológicos individuais são primordiais. Tal alinha-se com as teorias do capital social (embora não explicitamente nomeadas nas fontes), onde as conexões fornecem recursos, informação e apoio. As transições de carreira raramente são bem-sucedidas isoladamente; o acesso a informação, oportunidades e apoio através de conexões sociais é um facilitador crítico. Assim, as intervenções devem encorajar ativamente e ensinar competências de networking como um componente central da gestão da transição de carreira, o que também aponta para o valor de programas de mentoria.10
4. A Bússola Interna: Recursos Psicológicos para Percursos de Carreira
Para navegar com sucesso as complexidades do desenvolvimento e da transição de carreira, os indivíduos dependem de um conjunto de recursos psicológicos internos. Estes funcionam como uma “bússola interna”, orientando escolhas, promovendo a adaptação e sustentando o bem-estar.
4.1. Autoconhecimento (Autoconhecimento) e Autoconsciência
O autoconhecimento é definido como a compreensão dos próprios interesses, competências, aptidões, motivações, pontos fortes e fracos.9 É uma dimensão chave da maturidade para a escolha profissional, particularmente identificada em estudos com adolescentes, mas com implicações claras para adultos.8 Um estudo demonstrou um aumento significativo no autoconhecimento após uma intervenção de aconselhamento de carreira.9 Embora o conceito de “maturidade” seja mais aplicado a adolescentes e o de “adaptabilidade” a adultos 9, a necessidade subjacente de autocompreensão permanece crucial ao longo da vida. A sugestão para investigações futuras incluírem adultos reforça a sua relevância contínua.9 Este conceito alinha-se com a ênfase de Super na implementação do autoconceito nas escolhas de carreira.5
4.2. Regulação e Gestão Emocional
A regulação emocional refere-se à capacidade de gerir pensamentos, emoções e comportamentos para alcançar metas de longo prazo, e de compreender e controlar respostas emocionais, especialmente em situações de stresse.10 É crucial para manter a motivação e o foco durante a progressão e as transições de carreira.10 O e-book da OPP 2 discute a gestão de emoções como incerteza, insegurança e stresse, e a importância de compreender os medos. Estratégias incluem o diálogo interno positivo, a reinterpretação de experiências e atividades de alívio do stresse.10 “Desbravar os nossos medos” e compreender as crenças subjacentes é também uma abordagem valiosa.2
4.3. Resiliência e Otimismo
A resiliência é a capacidade de identificar fatores de risco e proteção associados a eventos inesperados (“choque de carreira”) e de alcançar resultados bem-sucedidos e adaptáveis.2 Implica aprender com a experiência e adotar uma mentalidade de crescimento. O otimismo, por sua vez, é a crença na concretização favorável dos objetivos; é um componente do “Índice de Prontidão para a Sorte” de Pryor e Bright e da dimensão “preocupação” da adaptabilidade de Savickas e Porfeli.2 Estes são fomentados por um sentido de controlo, curiosidade, confiança e uma abordagem proativa ao planeamento e exploração de oportunidades.2
4.4. A Busca por Propósito, Significado e Aspirações
A procura por um sentido mais profundo no trabalho é um tema recorrente. O e-book da OPP 2 encoraja a construção de uma carreira com “sentido” e a reflexão sobre “o que é que o move?”. Alinhar o trabalho com valores e aspirações pessoais é um motivador intrínseco chave para as transições de carreira.4 Este processo envolve refletir sobre os caminhos percorridos, os caminhos desejados para o futuro e identificar as forças motrizes individuais.2
Estes recursos psicológicos – autoconhecimento, regulação emocional, resiliência e propósito – não são traços isolados, mas sim interdependentes e sinérgicos, reforçando-se mutuamente. Por exemplo, um maior autoconhecimento pode melhorar a regulação emocional através da compreensão dos próprios gatilhos, o que, por sua vez, constrói resiliência. A compreensão das próprias forças (autoconhecimento 9) pode aumentar a confiança (um componente da adaptabilidade 2), que é uma faceta da resiliência. Um forte sentido de propósito pode alimentar o otimismo e a resiliência. Estes recursos provavelmente operam num ciclo de retroalimentação positiva, onde o desenvolvimento numa área pode estimular o crescimento noutras. Assim, as intervenções devem visar o desenvolvimento holístico destes recursos, em vez de os abordar isoladamente. Por exemplo, um workshop sobre resiliência poderia incorporar elementos de autorreflexão, técnicas de gestão emocional e exploração de propósito.
A ênfase consistente nestes recursos internos 2 sugere que navegar com sucesso as complexidades externas do mercado de trabalho e das transições de carreira depende fortemente de um “trabalho interno” prévio ou concomitante – o desenvolvimento da autoconsciência, inteligência emocional e uma mentalidade resiliente. Teorias como a de Super (implementação do autoconceito 5) e a de Savickas (temas de vida, adaptabilidade 3) apontam inerentemente para a importância de constructos psicológicos internos. O sucesso e a satisfação na carreira externa estão profundamente enraizados na clareza e força psicológica interna. Sem esta base interna, a navegação externa torna-se mais desafiadora e potencialmente menos gratificante. Consequentemente, os programas de desenvolvimento de carreira e o aconselhamento devem integrar práticas que fomentem este “trabalho interno”, como mindfulness, exercícios reflexivos, clarificação de valores e treino de inteligência emocional, e não apenas focar-se em estratégias externas de procura de emprego.
Embora apresentados como universais, a ênfase e interpretação de conceitos como “propósito” e “autoconhecimento” podem ter nuances culturais. A forte presença de fontes em língua portuguesa 2 a discutir “sentido” e “autoconhecimento” é notável. Levanta-se a questão de saber se estes conceitos são enfatizados ou compreendidos de forma diferente entre culturas. Embora existam em teorias de língua inglesa (ex: autoconceito em Super), o enquadramento e a ênfase específicos podem diferir. Poderão existir variações culturais na forma como os indivíduos abordam ou priorizam estes recursos psicológicos no seu desenvolvimento de carreira; por exemplo, orientações culturais coletivistas versus individualistas poderiam moldar a compreensão de “propósito”. A investigação transcultural em psicologia vocacional deve explorar mais aprofundadamente estas nuances, e os profissionais que trabalham com populações diversas devem estar atentos a potenciais diferenças culturais na expressão e importância destes recursos psicológicos.
5. Guiando o Caminho: Abordagens Modernas em Aconselhamento de Carreira para Adultos
O aconselhamento de carreira para adultos evoluiu significativamente, incorporando novas compreensões teóricas e respondendo às necessidades de um mundo do trabalho em constante mudança. As abordagens modernas procuram capacitar os indivíduos com as ferramentas e a perspetiva necessárias para gerir as suas carreiras de forma eficaz.
5.1. Princípios e Modelos Fundamentais
A intervenção em psicologia vocacional percorreu um longo caminho desde as primeiras abordagens de traço e fator de Parsons, passando pelas abordagens desenvolvimentistas de Super e Holland, até às intervenções que hoje abordam questões mais amplas relacionadas com o trabalho, como o stresse e a ansiedade.11 O Modelo de Avaliação e Aconselhamento para o Desenvolvimento de Carreira (C-DAC) de Super, por exemplo, utiliza instrumentos como o Adult Career Concerns Inventory (ACCI), o Career Development Inventory (CDI), o Inventário de Saliência e a Escala de Valores para avaliar preocupações desenvolvimentais, prontidão, saliência de papéis e valores, com o objetivo de clarificar e implementar autoconceitos.7 A assistência de carreira baseada no aconselhamento (counseling-based career assistance) enfatiza a natureza interligada das preocupações pessoais e de carreira, capacitando os clientes e fomentando uma relação colaborativa.7
5.2. Intervenções para Transições de Carreira em Adultos
As intervenções para adultos em transição de carreira visam abordar problemas específicos como a adaptação ao emprego, as mudanças de carreira propriamente ditas e o desemprego.11 Uma vertente importante é a integração de estratégias de autorregulação. A lógica subjacente é que o desenvolvimento de carreira bem-sucedido resulta da autogestão interna e do comportamento orientado para objetivos.10 As técnicas incluem o estabelecimento de metas (SMART), gestão do tempo, automonitorização e regulação emocional, aplicadas através de workshops e aconselhamento individualizado.10 Intervenções específicas de aconselhamento 10 incluem:
- Avaliações de Carreira: Oferecem perspetivas personalizadas sobre interesses, valores e competências.
- Entrevistas Informacionais: Fornecem conhecimentos diretos de profissionais experientes sobre indústrias específicas.
- Estratégias de Networking: Orientam na construção e manutenção de conexões profissionais.
- Workshops de Currículo e Entrevista: Refinam competências para candidaturas de emprego bem-sucedidas.
- Programas de Mentoria: Conectam indivíduos com mentores experientes para orientação personalizada.
5.3. O Papel da Tecnologia e da Informação
O uso da tecnologia na intervenção vocacional é reconhecido como uma área em desenvolvimento.11 Embora não extensivamente detalhada nas fontes analisadas, a sua menção aponta para a crescente importância das ferramentas digitais no acesso à informação, avaliação e prestação de serviços de aconselhamento.
5.4. Abordar Populações Diversas e Fatores Contextuais
É crucial a necessidade de intervenções culturalmente competentes, reconhecendo que as teorias tradicionais frequentemente se focaram em demografias específicas. É fundamental compreender diversos contextos culturais (ex: orientações coletivistas vs. individualistas, identidade racial).7 A defesa da justiça social (social justice advocacy) implica abordar barreiras sistémicas (racismo, sexismo, etc.) e advogar por políticas que apoiem os trabalhadores.7 O e-book da OPP 2 fornece orientação específica para psicólogos num mundo imprevisível, demonstrando uma aplicação sensível ao contexto. A investigação sobre “autoconhecimento” 8 e psicologia vocacional 11 em Portugal e no Brasil também oferece perspetivas contextuais valiosas.
5.5. O Papel da Psicologia do Desenvolvimento Humano
A Psicologia do Desenvolvimento Humano estuda os processos psicológicos ao longo da vida em relação aos contextos sociais, culturais e biológicos.12 Embora uma fonte 12 afirme que esta área fundamenta políticas em várias fases da vida, não discute diretamente a sua aplicação ao desenvolvimento ou transição de carreira em adultos nesse artigo específico. Outras fontes 13 também mostram um foco noutras áreas (ex: psicologia da saúde ocupacional em vez de psicologia do desenvolvimento para a segurança no trabalho). Isto sugere que, embora amplamente relevante, teorias vocacionais mais específicas são frequentemente priorizadas para contextos de transição de carreira nos materiais fornecidos.
As abordagens modernas de aconselhamento refletem uma mudança no sentido de capacitar os clientes como agentes ativos no seu desenvolvimento de carreira. A ênfase na autorregulação 10 e na construção narrativa 7 sublinha a agência do cliente, a autogestão e a criação de significado, afastando-se de modelos mais prescritivos e liderados por peritos do passado (ex: as primeiras abordagens de traço e fator 7). Esta evolução alinha-se com constructos teóricos como a adaptabilidade de carreira 3 e a autocriação.7 O papel do conselheiro evolui de um perito diretivo para um parceiro facilitador que equipa os clientes com ferramentas e quadros para uma navegação de carreira autodirigida. Consequentemente, a formação de conselheiros necessita de enfatizar competências de coaching, facilitação da autorreflexão e ensino de técnicas de autogestão, para além do conhecimento teórico e das competências de avaliação.
Além disso, o reconhecimento de que as preocupações pessoais e de carreira estão interligadas 7 e a inclusão da regulação emocional 10, gestão do stresse 2 e equilíbrio dos papéis de vida (Life-Space de Super 5) indicam que o aconselhamento de carreira eficaz deve ser holístico e abordar a pessoa como um todo, não apenas o seu ajuste ocupacional. Motivações para a mudança de carreira frequentemente incluem “qualidade de vida” e “equilíbrio” 4, que são preocupações pessoais que impactam decisões profissionais. Um foco restrito no ajuste ao trabalho ou no desenvolvimento de competências é, portanto, insuficiente. O aconselhamento de carreira frequentemente mergulha em áreas tradicionalmente associadas ao aconselhamento pessoal, exigindo que os conselheiros de carreira possuam competências para abordar questões emocionais, clarificação de valores e planeamento de vida, o que pode esbater as fronteiras com a psicoterapia geral em alguns casos, ou necessitar de vias de encaminhamento claras. Isto também apoia a necessidade de os conselheiros estarem cientes de influências psicodinâmicas.1
Finalmente, um crescente reconhecimento das influências sistémicas e da necessidade de justiça social no desenvolvimento de carreira é evidente. Os apelos a intervenções culturalmente competentes e à defesa da justiça social 7 significam uma compreensão de que os percursos de carreira individuais não são unicamente determinados por traços ou escolhas individuais, mas são significativamente moldados (e frequentemente limitados) por estruturas sociais mais amplas, preconceitos e desigualdades. A teoria de Gottfredson 1 explica como os estereótipos sociais (género, prestígio) levam à circunscrição precoce das escolhas, e as teorias sociológicas 1 também destacam fatores institucionais. O campo está a mover-se para além de um foco individualista para reconhecer e abordar o impacto da opressão sistémica e do privilégio nas oportunidades e desenvolvimento de carreira. O papel de um conselheiro de carreira pode, assim, estender-se para além das sessões individuais para incluir advocacia, intervenção comunitária e esforços para promover sistemas equitativos, o que também implica examinar criticamente as teorias e ferramentas existentes quanto a enviesamentos culturais.
A tabela seguinte procura mapear desafios comuns em transições de carreira com recursos psicológicos e estratégias de intervenção:
Tabela 2: Fatores Chave e Estratégias de Intervenção em Transições de Carreira de Adultos
Desafio/Fator na Transição | Recurso Psicológico Associado | Intervenção/Estratégia de Aconselhamento |
Incerteza sobre o futuro, medo do desconhecido | Resiliência, Tolerância à ambiguidade, Otimismo | Técnicas de gestão da ansiedade, Exploração de cenários, Desenvolvimento de planos de contingência, Foco no “Acontecimento Planeado” 2 |
Lacuna de competências ou desatualização profissional | Autoeficácia para aprender, Curiosidade, Adaptabilidade | Identificação de necessidades de formação, Encaminhamento para programas de capacitação, Coaching para desenvolvimento de competências, Aquisição de novas experiências 4 |
Stresse emocional, ansiedade, perda de identidade | Regulação Emocional, Autocompaixão, Resiliência | Aconselhamento focado nas emoções, Técnicas de coping, Psicoterapia (se necessário), Reconstrução narrativa da identidade profissional 2 |
Falta de clareza sobre interesses, valores, próxima direção | Autoconhecimento, Propósito/Sentido | Avaliações de carreira (interesses, valores, personalidade), Exercícios de clarificação de valores, Entrevistas informacionais, Exploração de temas de vida 2 |
Necessidade de informação sobre o mercado e oportunidades | Curiosidade, Proatividade | Pesquisa de mercado de trabalho, Estratégias de networking, Entrevistas informacionais, Utilização de plataformas de emprego e informação de carreira 4 |
Isolamento, falta de apoio | Competências sociais, Procura de apoio | Desenvolvimento de estratégias de networking, Participação em grupos de apoio, Programas de mentoria, Fortalecimento de redes pessoais e profissionais 4 |
Dificuldade em tomar decisões | Controlo (Adaptabilidade), Competências de tomada de decisão | Modelo CIP (CASVE), Análise de prós e contras, Exploração de opções, Desenvolvimento da confiança na tomada de decisão 2 |
6. Conclusão: Sintetizando Perspetivas para Carreiras Preparadas para o Futuro
A análise das teorias de psicologia vocacional, da dinâmica das transições de carreira em adultos e das abordagens de aconselhamento contemporâneas revela um campo rico e em evolução, dedicado a compreender e apoiar os indivíduos nos seus percursos profissionais. Vários temas emergem com particular destaque. As teorias fundamentais, desde os modelos de ajuste pessoa-ambiente até às perspetivas desenvolvimentistas, de aprendizagem/cognitivas e construtivistas, oferecem lentes diversas mas frequentemente complementares para examinar a carreira. As transições de carreira adultas são impulsionadas por uma complexa interação de motivações intrínsecas e extrínsecas, acompanhadas por um significativo impacto emocional, e geridas através de uma variedade de estratégias de enfrentamento e adaptação. Crucialmente, recursos psicológicos internos como o autoconhecimento, a regulação emocional, a resiliência e a busca por propósito funcionam como pilares para uma navegação bem-sucedida. As intervenções de aconselhamento de carreira modernas refletem esta complexidade, evoluindo para modelos mais holísticos, centrados no cliente e sensíveis ao contexto.
Fica claro que o desenvolvimento de carreira não é um evento singular, mas uma jornada contínua de aprendizagem, adaptação e construção de significado, especialmente no “mundo imprevisível” que caracteriza o panorama laboral atual.2 A importância da aprendizagem ao longo da vida e da adaptabilidade de carreira 3 emerge como competências centrais para o profissional moderno.
Ao sintetizar o material analisado, percebe-se que o objetivo último do desenvolvimento de carreira transcende a mera colocação profissional, apontando para o bem-estar psicológico no contexto da carreira. As teorias visam a “satisfação” 5, a “implementação do autoconceito” 5 e o “significado” 2, enquanto as intervenções procuram mitigar o “stresse e a ansiedade” 11 e promover a “regulação emocional”.10 As motivações para a transição frequentemente incluem a “qualidade de vida” 4 e o “propósito” 2, indicadores de bem-estar. O campo da psicologia vocacional, conforme representado, está profundamente preocupado com a experiência psicológica holística dos indivíduos nas suas carreiras. Isto implica que o sucesso das intervenções de carreira deve ser medido não apenas por resultados de emprego, mas também por melhorias no bem-estar psicológico, autoeficácia, adaptabilidade e sentido de propósito.
Adicionalmente, a sabedoria coletiva das teorias e estratégias de intervenção sugere um forte imperativo para que os indivíduos se tornem gestores proativos das suas próprias carreiras. A ênfase na autorregulação 10, na adaptabilidade de carreira 3, no acontecimento planeado 1 e na aprendizagem contínua 1 demonstra esta necessidade. O “mundo imprevisível” 2 exige tal proatividade. A responsabilidade pelo desenvolvimento de carreira está, assim, a deslocar-se cada vez mais para o indivíduo, apoiado por, mas não unicamente dependente de, orientação externa. Consequentemente, os sistemas educativos e as organizações têm um papel a desempenhar no fomento destas competências de autogestão desde uma fase inicial e ao longo da carreira de um indivíduo, promovendo uma cultura de desenvolvimento de carreira proativo.
Em suma, preparar os indivíduos para carreiras futuras requer não só o desenvolvimento de competências técnicas, mas, fundamentalmente, o cultivo de uma robusta arquitetura psicológica interna, capaz de sustentar a aprendizagem contínua, a adaptação resiliente e a busca incessante por significado e realização no trabalho. A investigação futura deverá continuar a aprofundar estas dinâmicas, com particular atenção à sensibilidade cultural, à consciência contextual e à natureza em constante mutação do trabalho, sempre com o intuito de integrar o bem-estar psicológico com o sucesso na carreira.
Referências citadas
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